No Março Lilás, mês de conscientização sobre o câncer do colo do útero, especialista lembra o importante papel masculino na prevenção e o impacto social da mulher em tratamento oncológico
O cuidado e o olhar voltados para a mulher no mês de março não devem ser apenas no dia 8, quando se comemora o Dia Internacional das Mulheres. No dia 26, a conscientização é pela saúde feminina com o Dia Mundial de Prevenção ao Câncer do Colo do Útero. Assim como há a campanha Outubro Rosa para conscientizar sobre o câncer de mama, neste mês a campanha é pelo Março Lilás. O câncer do colo do útero é causado pelo papilomavírus humano (HPV), que é facilmente transmitido na relação sexual.
De acordo com a coordenadora da Ginecologia do Instituto de Oncologia Ciência Médicas de Minas Gerais (IONCM-MG), Dra. Mariana Seabra, a vacinação contra o HPV é uma das estratégias mais eficazes na prevenção do câncer do colo do útero. A especialista aponta que vacinar meninos também é fundamental para controlar a transmissão do vírus causador do câncer. A especialista respondeu a importantes questões sobre o tema, confira!
- Como está o atual cenário da vacinação contra o HPV?
Dra. Mariana Seabra – ginecologista: A vacinação contra o HPV é uma das estratégias mais eficazes na prevenção do câncer de colo de útero. O governo brasileiro tem avançado nessa pauta — há um ano vimos campanhas de repescagem, e mais recentemente houve a ampliação da faixa etária de vacinação gratuita pelo SUS, que agora contempla meninos e meninas de 9 a 19 anos no Programa Nacional de Imunizações (PNI). Reforçar a importância da vacinação de meninos é essencial para ampliar a proteção coletiva, reduzir o estigma e contribuir para o controle da transmissão do vírus. É um tema que conecta prevenção, educação e responsabilidade social — ideal para campanhas de sensibilização.
- Já tivemos quantos atendimentos de casos de câncer de colo de útero no IONCM-MG?
DMS: Entre 01/11/2024 e 21/03/2025, realizamos 162 consultas ginecológicas. Cerca de 35 dessas pacientes tiveram diagnóstico de câncer do colo do útero, o que representa uma parcela significativa dos atendimentos. Ainda estamos consolidando os dados sobre exames realizados, mas já observamos um aumento na solicitação de exames de imagem, biópsias e testes de HPV, acompanhando a demanda crescente no Instituto. Chama a atenção o fato de que mais de 70% dos casos que chegam em nosso serviço estão em estágio localmente avançado, quando a cirurgia curativa já não é mais uma opção possível. Precisamos lembrar que isso é de extrema relevância, uma vez que se trata de um tumor prevenível por vacinação e rastreável para detecção de lesões precoces ou pré-invasoras.
- O câncer de colo de útero é uma neoplasia que pode ser prevenida com bastante eficácia, ainda assim, é o terceiro tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil. Qual é o maior obstáculo no combate ao câncer de colo de útero? Como poderíamos melhorar isso?
DMS: Um dos principais obstáculos no Brasil é o modelo de rastreamento oportunístico. Ou seja, cabe à mulher procurar espontaneamente os serviços de saúde para a coleta do exame preventivo (Papanicolau). Isso gera desigualdade, baixa cobertura e perda de oportunidades de detecção precoce. Soma-se a isso a desinformação sobre a vacinação contra o HPV, mesmo com sua eficácia comprovada e sua recente ampliação no SUS até 19 anos.
Para mudar esse cenário, é fundamental ampliar campanhas educativas, fortalecer a busca ativa na atenção primária, investir em sistemas organizados de rastreamento e garantir acesso fácil à vacinação. Educação, acesso e continuidade do cuidado são as chaves para transformar essa realidade.
Dados do Instituto de Oncologia Ciência Médicas de Minas Gerais
Em atividade desde novembro de 2024, o IONCM-MG, que tem seu atendimento 100% SUS, já realizou mais de 160 consultas ginecológicas. Segundo a coordenadora da Ginecologia, Dra. Mariana Seabra, dentre essas consultas, cerca de 35 pacientes tiveram o diagnóstico de câncer do colo do útero, o que representa uma parcela significativa dos atendimentos. “Ainda estamos consolidando os dados sobre exames realizados, mas já observamos um aumento na solicitação de exames de imagem, biópsias e testes de HPV, acompanhando a demanda crescente no instituto”, conta.
Com menos de seis meses de funcionamento, a médica teve a percepção de que 70% dos casos de câncer do colo do útero atendidos no instituto chegam em estágio localmente avançado, quando a cirurgia curativa já não é mais uma opção possível.
A maior incidência desse tipo de câncer ocorre entre os 35 e 45 anos e, em vista desse cenário, a doença também impacta socialmente. A especialista lembra que, nessa faixa etária, a mulher está em plena fase reprodutiva, muitas já têm filhos pequenos e, ainda, atuam como principais responsáveis pelo sustento e cuidado da família. De acordo com o Censo Demográfico (IBGE) de 2022, quase a metade dos lares brasileiros são chefiados por mulheres, mais precisamente 49,1% dos domicílios.
Além disso, os efeitos do tratamento, como menopausa precoce, infertilidade e limitações físicas, impactam diretamente sua qualidade de vida. “Discutir o câncer do colo do útero não é apenas falar de prevenção e tratamento; é também falar de políticas públicas de suporte social, proteção à mulher trabalhadora e atenção integral à família afetada. Prevenir essa doença é, em muitos casos, evitar rupturas familiares e sofrimento evitável”, conclui Dra. Mariana.